sábado, 14 de julho de 2012

Te Quero





















EM TEUS PASSOS

Hoje te vi passando por mim,
Mas você nem me viu...
Seus cabelos dourados,
Caiam em cachos sobre seus ombros.
E seu perfume dominava meu desejo.
Mas você nem me notou...
Meus olhos caminhavam junto a ti,
Sem importar a distância a alcançar.
Eu só queria estar ao seu lado.
Mas você nem percebeu...
Apressei meu passo,
Pleno de toda a convicção.
De te dar o amor,
Que carrego em meu coração.
Mas você simplesmente não quis...
E por isso nem parou.

CARLOS MEDEIROS

Conciente




















SOU EU

Sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo,

Espécie de acessório ou sobressalente próprio, 

Arredores irregulares da minha emoção sincera, 

Sou eu aqui em mim, sou eu.
Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou. 

Quanto quis, quanto não quis, tudo isso me forma.

Quanto amei ou deixei de amar é a mesma saudade em mim.
E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco inconseqüente,

Como de um sonho formado sobre realidades mistas,

De me ter deixado, a mim, num banco de carro elétrico,

Para ser encontrado pelo acaso de quem se lhe ir sentar em cima.
E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco longínqua, 

Como de um sonho que se quer lembrar na penumbra a que se acorda, 

De haver melhor em mim do que eu.
Sim, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco dolorosa, 

Como de um acordar sem sonhos para um dia de muitos credores, 

De haver falhado tudo como tropeçar no capacho, 

De haver embrulhado tudo como a mala sem as escovas, 

De haver substituído qualquer coisa a mim algures na vida.
Baste! É a impressão um tanto ou quanto metafísica,

Como o sol pela última vez sobre a janela da casa a abandonar,

De que mais vale ser criança que querer compreender o mundo 

A impressão de pão com manteiga e brinquedos

De um grande sossego sem Jardins de Prosérpina,

De uma boa-vontade para com a vida encostada de testa à janela,

Num ver chover com som lá fora

E não as lágrimas mortas de custar a engolir.
Baste, sim baste! Sou eu mesmo, o trocado,

O emissário sem carta nem credenciais,

O palhaço sem riso, o bobo com o grande fato de outro,

A quem tinem as campainhas da cabeça

Como chocalhos pequenos de uma servidão em cima.
Sou eu mesmo, a charada sincopada

Que ninguém da roda decifra nos serões de província.
Sou eu mesmo, que remédio! ...


ÁLVARO DE CAMPOS
(um dos heterônimos de Fernando Pessoa)

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Na Pele





















BORBOLETAS E FLORES

Onde estão as borboletas, existem flores.
E o sol está sempre brilhando.
Por onde elas voam o perfume é intenso,
E o ar, ao romance estaria nos convidando.
Quando pousam é porque o sabor é doce,
E o desejo se espalha em gotas de mel.
Seu colorido é uma aquarela divina,
Que reflete o amanhecer nesse lindo céu.
Gostaria de ser sua borboleta,
E como uma tatuagem me ligar eternamente a você.
Pelo seu corpo, voaria ao léu.
Com o seu perfume como meu guia.
Me alimentaria desse doce mel.
E flutuaria em direção a essa alegria.
Te seguiria para onde for,
plainando por essa linda emoção.
Aproximando-me desse jardim de amor,
E me cristalizando em seu coração.

CARLOS MEDEIROS

Só Você




















NINGUÉM ME CANTA COMO VOCÊ

ninguém me canta
como você
ninguém me encanta
como você
nem me vê
do jeito
que só você
de que adianta
ter olhos
e não saber ver
ter voz
mas não não ter o que dizer
digam o que disserem
façam o que quiserem
ninguém diz
ninguém vê
ninguém faz
como você
ninguém me canta
ninguém me encanta
como você


ALICE RUIZ

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Cravo e Canela





















MORENA AMADA

Morena bonita me dá sua cor,
Para que eu possa pintar a minha vida,
E encobrir o preto e branco de minha dor,
Com as paisagens dessa felicidade desmedida,

Morena menina me dá sua flor,
Que eu transformarei em buquê,
Levando ao mundo a beleza do ipê,
Que te imita o doce perfume do amor.

Morena faceira me dá teu sorriso
Para alegrar meu coração.
Que de tristeza ficou indeciso,
E ainda tem medo dessa nova emoção.

Morena mulher me dá teu desejo,
Que aconchega teu corpo no meu.
O teu calor me é benfazejo,
Pois aquece quem já tanto sofreu.

Morena divina me leva contigo,
Não me prives dessa linda paixão.
Estar sem ti é tremendo castigo,
Pois não quero mais essa solidão.

CARLOS MEDEIROS

Não Basta Amar...




















AO CORAÇÃO QUE SOFRE


Ao coração que sofre, separado
Do teu, no exílio em que a chorar me vejo,
Não basta o afeto simples e sagrado
Com que das desventuras me protejo.

Não me basta saber que sou amado,
Nem só desejo o teu amor: desejo
Ter nos braços teu corpo delicado,
Ter na boca a doçura de teu beijo.

E as justas ambições que me consomem
Não me envergonham: pois maior baixeza
Não há que a terra pelo céu trocar;

E mais eleva o coração de um homem
Ser de homem sempre e, na maior pureza,
Ficar na terra e humanamente amar.


OLAVO BILAC

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Dia dos Namorados 2

















TEU TOQUE

Você surgiu assim de repente,
Quando eu mais procurava por você.
Eu necessitava de um carinho,
Implorava por um sorriso,
Desejava a tua voz.
Novamente tornei a sorrir,
Me sentir um abençoado.
Tocado por Deus mesmo...
Tocado por tua luz...
Tocado por você.

CARLOS MEDEIROS

Virou Saudade


















HOUVE UM POEMA
 

Houve um poema,
entre a alma e o universo.
Não há mais.
Bebeu-o a noite, com seus lábios silenciosos.
Com seus olhos estrelados de muitos sonhos.

Houve um poema:

parecia perfeito.
Cada palavra em seu lugar,
como as pétalas nas flores
e as tintas no arco-íris.
No centro, mensagem doce
e intransmitida jamais.

Houve um poema:

e era em mim que surgia, vagaroso.
Já não me lembro e ainda me lembro.
As névoas da madrugada envolvem sua memória.
É uma tênue cinza.
O coral do horizonte é um rastro de sua cor.
Derradeiro passo.

Houve um poema.

Há esta saudade.
Esta lágrima e este orvalho - simultâneos -
que caem dos olhos e do céu.

 
CECÍLIA MEIRELES

sábado, 2 de junho de 2012

Dia dos Namorados 1

















Dia dos Namorados

Que amanhecer lindo,
O perfume do dia está a se espalhar.
A certeza de que ela já vem vindo,
Me traz o desejo de amealhar,
As belas flores desse campo fértil,
Onde cultivamos as promessas,
Dessa paixão estudantil.
Tudo é bonito e verdadeiro,
Nesse seu sorriso gentil.
E sei que eternamente serei o primeiro
A trocar sonhos nesse delicioso beijar.
A tarde caminha tranquila,
E o anoitecer inflama as luzes
Que acendem o que já ardia em mim.
O anseio de te amar pela primeira vez,
De tocar seu corpo sagrado,
Envolver-me nessa intensa languidez.
Então,  definitivamente a ti anelado,
Formaremos um só coração.
Deitado nesse único corpo adormeço,
Com o seu dedilhar em meus cabelos.
Executando sublime melodia,
Que embalará meu sono agradecido.
Lentamente a noite se enche de luz,
E meio tonto ainda procuro seu corpo,
Para com um beijo retribuir,
O meu presente do dia dos namorados.

Mas você está ausente,
Só a solidão está a meu lado.
O sonho de ontem foi só mais um pesadelo.
Que a tua falta sempre me traz.

CARLOS MEDEIROS

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Ganhando O Mundo
















DA MAIS ALTA JANELA

Da mais alta janela da minha casa
Com um lenço branco digo adeus
Aos meus versos que partem para a Humanidade.

E não estou alegre nem triste.
Esse é o destino dos versos.
Escrevi-os e devo mostrá-los a todos
Porque não posso fazer o contrário
Como a flor não pode esconder a cor,
Nem o rio esconder que corre,
Nem a árvore esconder que dá fruto.

Ei-los que vão já longe como que na diligência
E eu sem querer sinto pena
Como uma dor no corpo.

Quem sabe quem os lerá?
Quem sabe a que mãos irão?

Flor, colheu-me o meu destino para os olhos.
Árvore, arrancaram-me os frutos para as bocas.
Rio, o destino da minha água não era ficar em mim.
Submeto-me e sinto-me quase alegre,
Quase alegre como quem se cansa de estar triste.

Ide, ide de mim!
Passa a árvore e fica dispersa pela Natureza.
Murcha a flor e o seu pó dura sempre.
Corre o rio e entra no mar e a sua água é sempre a que foi sua.

Passo e fico, como o Universo.

ALBERTO CAEIRO

(Um dos heterônimos de Fernando Pessoa)

sábado, 26 de maio de 2012

Tudo Passa

















TENHA FÉ

Não acredite que tudo acabou,
Que é o momento de desistir.
Tenha fé no que sonhou,
Ainda é o momento de sorrir.

Problemas sempre existirão,
Portanto não se deixe abater.
Por mais que doa o teu coração,
Tudo são lições que deverás aprender.

Olhai o mundo à sua volta,
Perceba que tudo pode brilhar.
Não se feche nessa escura revolta,
Não necessitas o teu espírito enlutar.

Eu sei que não querias isso,
E que a dor é por demais voraz.
Te sentes fraca e sem viço,
E um sorriso não serias capaz.

Faça um esforço irmã,
Vale apena tentar.
Pois a alma só será sã,
Quando voltares a amar.

O amor restaura a vida,
E ilumina esse jardim em flor.
Se sinta por elas querida,
E tocada pelo verdadeiro amor.

Abrace esse sentimento,
Apoie-se nessa emoção.
Confia em Deus a todo o momento,
E o mundo sorrirá contigo, então.

CARLOS MEDEIROS


Certezas





















Bem, hoje

Bem, hoje que estou só e posso ver

Com o poder de ver do coração
Quando não sou, quanto não posso ser,
Quanto, se o for, serei em vão,

Hoje, vou confessar, quero sentir-me

Definitivamente ser ninguém,
E de mim mesmo, altivo, demitir-me
Por não ter procedido bem,

Falhei a tudo, mas sem galhardias,

Nada fui, nada ousei e nada fiz,
Nem colhi as urtigas dos meus dias
A flor de parecer feliz.

Mas fica sempre, porque o pobre é rico

Em qualquer cousa, se procurar bem,
A grande indiferença com que fico,
Escrevo-o para lembrar bem.

FERNANDO PESSOA

sábado, 19 de maio de 2012
















SONHAR CONTIGO

São tantos os sonhos,
De felicidade, de família e de vitória.
Alguns realizados e bem vividos,
Outros nem marcaram nossa história.
Mas alguns tristes fatos,
Nascidos na luta do dia a dia,
Que ferem bem fundo.
Apontam Erros de um passado que não devia,
Existir mais em nosso mundo.
Pois recordam  sofrimentos,
Que no coração machucam profundo,
E calam o que realmente importa.
Importa te amar.
Importa estar ao teu lado.
Importa tua mão junto a minha.
Importa achar que por ti sou amado.
Meu corpo te pertence.
Minha alma te ama.
Teu sorriso me entorpece.
Teu abraço é minha trama.
Onde eu me deito,
Onde eu repouso,
Onde eu sonho.
Felicidade, família e vitória.

CARLOS MEDEIROS

Fonte de Inspiração















Musa dos olhos verdes


Musa dos olhos verdes, musa alada,
Ó divina esperança,
Consolo do ancião no extremo alento,
E sonho da criança;

Tu que junto do berço o infante cinges

C'os fúlgidos cabelos;
Tu que transformas em dourados sonhos
Sombrios pesadelos;

Tu que fazes pulsar o seio às virgens;

Tu que às mães carinhosas
Enches o brando, tépido regaço
Com delicadas rosas;
Casta filha do céu, virgem formosa

Do eterno devaneio,

Sê minha amante,
os beijos meus recebe,
Acolhe-me em teu seio!

Já cansada de encher lânguidas flores

Com as lágrimas frias,
A noite vê surgir do oriente a aurora
Dourando as serranias.

Asas batendo à luz que as trevas rompe,

Piam noturnas aves,
E a floresta interrompe alegremente
Os seus silêncios graves.

Dentro de mim, a noite escura e fria

Melancólica chora;
Rompe estas sombras que o meu ser povoam;
Musa, sê tu a aurora!

Machado de Assis

sábado, 12 de maio de 2012

De Volta ao Blog








REABERTURA

Algumas vezes o silêncio é imposição.
Mas retornar ao caminho é necessidade.
pois poesia é verbo.
E o poeta é sua conjugação.