quarta-feira, 26 de maio de 2010

Doce Olhar
















HONEY EYES


Olhos de mel,
Doce visão,
Que espelha o céu
E adocica o coração.

Olhos castanhos,
Claros e brilhantes.
Refletem o desejo,
Que arde nos amantes.

Olhos grandes,
Como os sonhos.
Que brotam na forma de flores,
Perfumando a alma de todos.

Pobres são meus olhos,
Que procuram os teus.
Como a ilusão da miragem,
Que nunca alcançará.

CARLOS MEDEIROS

Lírio Poético















O MENINO LOUCO


Eu te paguei minha pesada moeda,
Poesia...
Ó teus espelhos deformantes e límpidos
Como a água! Sim, desde menino,
Meus olhos se abriam insones como flores no escuro
Até que, longe, no horizonte, eu via
A Lua vindo, esbelta como um lírio...
Às vezes numa túnica de Infanta
Sonâmbula...Às vezes virginalmente nua...
E era branca como as nozes que os esquilos
descascam na mata...
Pura como um punhal de sacrifício...
(Em meus lábios queimava-se, ignorada,
a palavra mágica!)

MARIO QUINTANA

domingo, 16 de maio de 2010

Agua na Boca

 

UM BEIJO

Um dia me perguntaram.
Tu que já amou,
Sabes o segredo do beijo?


Em meus poucos conhecimentos,
Me veio um único pensar.
Que beijar é forte instrumento,
Daquele que sabe amar.


Beijar tem sabor de rosas,
Beijar tem gosto de amor.
Beijar em despedida,
É prenúncio de dor.


Beijar é brilho no olhar.
Beijar é vontade louca,
Que busca a cura,
Na maciez de sua boca.


Beijar é roubo sem maldade.
Beijar é alívio na tempestade.
Beijar é matar a saudade.
Beijar é mergulho profundo na eternidade.


Beijar é voar nas nuvens.
Beijar é cair no mar.
Beijar é deitar em flores.
Beijar é necessidade de sonhar.


Beijar é como seda macia,
Que desliza suave pelo corpo.
Beijar é como luz de vela,
Que se esvai lentamente.


Beijar é frio intenso,
Que faz tremer o corpo tenso.
Beijar é medo da solidão,
Que deixa inquieto o coração.


Beijar é morrer contente.
Beijar é renascer imponente.
Beijar é perfume no ar.
Beijar é alma a delirar.


Então agora respondo com calma.
Beijar é desejo sem fim.
Que se encerra docemente,
Em belos lábios de cor carmim.

CARLOS MEDEIROS

  


sábado, 15 de maio de 2010

Sempre Juntos




















JUNTO A TI ESQUECEREI


I


Junto a ti esquecerei as inúmeras partidas
- as cordas e as amarras nunca se quebraram
e talvez por isso eu permanecerei imóvel sob a tua influência...
Tu pesarás para mim como produto de âncoras
como a pedra amarrada do pescoço do pecador.
Os portos passarão a ser beira de cais
as terras longínquas nada mais me dizem
- quebrei a bússola para evitar a tentação.
Tua presença é poderosa como urros na floresta.
Sinto que extingues em mim
a sombra dos navegadores.


II


A tua atitude te eleva para o alto.
Vejo que cortaste definitivamente todas as amarras.
Daqui eu adivinho os olhos dos homens
perdidos no tempo que nada descobrirão de ti.
Deixa que os não-poetas falem de tua beleza,
esses nunca compreenderão o que há em ti de sombra,
de sementes germinando, de vozes de cavernas.
Nem ao menos que é o teu olhar que nos aproxima
que nos torna irmãos para o resto do tempo.
Eu te reconheceria entre todas, porque tua presença eu a pressinto.
Deixa que tuas formas eles a tomem pela essência.
Esses te perderão ainda mais
e nunca compreenderão tuas inúmeras sugestões
que tu mesma desconheces.


III


Esquecerei os teus convites de fuga.
As coisas presentes serão absolutamente insignificantes.
Sentir-me-ei em tua presença como o primeiro homem
que se ia apoderando de todas as formas desconhecidas.


IV


Esquecerei todos os convites de fuga.
Os portos serão para nós apenas
as âncoras e as amarras.
Nossos olhos não mais distinguirão
caravelas e transatlânticos sobre o mar.
Nossos ouvidos não mais perceberão
o barulho das ondas que são um chamamento constante.
Então leremos poetas bucólicos
debaixo de uma árvore que deverá ser frondosa.
Indefinidamente rodaremos em torno dela como num carrossel,
indefinidamente estarás comigo.

JOÃO CABRAL DE MELO NETO


domingo, 2 de maio de 2010

Sonho e Desejo.

PÁSSARO SEM NINHO.


Queria um colo...
Para nele poder me aninhar
E no macio desse aconchego,
Como um passarinho sonhar.

Então voar...
Como quem busca a liberdade.
Livrando-me do mal estar,
De viver nessa verdade.
Que é a falta eu você me faz.

Queria um colo...
Para sentir seu calor,
Deliciar-me com seu doce sabor.
Deleitar-me com o suave odor.
E extasiado, me cobrir com seu amor.

Mas sempre desperto sentindo frio.
Com a solidão dormindo ao meu lado.
No meu corpo apenas o vazio,
De quem amou, mas nunca foi amado.

CARLOS MEDEIROS

Muitas Saudades !















NA SOLIDÃO DAS NOITES ÚMIDAS



Como tenho pensado em ti na solidão das noites úmidas,
De névoa úmida,
Na areia úmida!
Eu te sabia assim também, assim olhando a mesma cousa
No ermo da noite que repousa.
E era como se a vida,
Mansa, pousasse as mãos sobre a minha ferida...

Mas, ah! como eu sentia
A falta de teu ser de volúpia e tristeza!
O mar... Onde se via o movimento da água,
Era como se a ádua estremecesse em mil sorrisos.
Como uma carne de mulher sob a carícia.
O luar era um afago tão suave,
- Tão imaterial -
E ao mesmo tempo tão voluptuoso e tão grave!
O luar era a minha inefável carícia:
A água era teu corpo a estremecer-se com delícia.

Ah! em música, pôr o que eu então sentia!
Unir no espasmo da harmonia
Esses dois ritmos contrastantes:
O frêmito tão perdidamente alegre de amor sob a carícia
E essa grave volúpia da luz branca.

Oh! viver contigo!
Viver contigo todos os instantes...
Harmoniosa e pura,
Sem lastimar a fuga irreparável dos anos,
Dos anos lentos e monótonos que passam,
Esperando sempre que maior ventura
Viesse um dia no beijo infinito da mesma morte...

MANUEL BANDEIRA