segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Desesperado Erro...
















ILUSÃO

A noite silencia para ouvir nossos lamentos.
Nossos peitos gritam a dor desses tormentos.
E as lágrimas inundam nossos corações.
Quem são esses que se opõem ao nosso casamento?
Quem são esses destruidores de emoções?
Que fazem cair sobre nós o firmamento,
Afligindo-nos com esse eterno sofrimento.
Bem sabes do meu secreto sentimento,
Que sem teu sorriso prefiro morrer.
E se minha vida você não pode ter,
Ninguém jamais terá.
Você confessa a mesma libertadora intenção.
E segurando forte a minha mão,
Diz que nem o anjo da morte irá nos separar.
E se o destino assim o desejar,
Será no paraíso que eternamente iremos nos juntar.
Encorajados pelos sentimentos despertados
E seguros que isso não iria mudar.
Com um beijo, selamos o pacto dos desesperados.
Então a lâmina brilha com a luz do luar.
O aço frio abre o meu peito.
Fazendo o meu coração sangrar.
Cambaleando te procuro,
Mas não consigo te encontrar.
Desesperado grito teu nome, em vão...
Só escuto você a chorar.
Num último instante lhe estendo a mão.
Mas o medo te faz afastar.
Entendo agora que estou sozinho.
E que sofrerei por este eterno caminho,
As conseqüências deste horrível crime.
Compreendo então,
Que grande é a ilusão.
Daquele que acredita,
Que é eterno o que dita,
A força de uma paixão
E num último suspiro cai meu corpo,
Na mais profunda e solitária escuridão.


CARLOS MEDEIROS

domingo, 27 de setembro de 2009

Lembranças Eternas


























PARA HELENA


Vi-te uma vez, só uma, há vários anos,
já não sei dizer quantos, mas não muitos.
Era em junho; passava a meia-noite
e a lua, em ascensão, como tua alma,
nos céus abria um rápido caminho.
O luar caía, um véu de seda e prata,
calma, tépida, embaladoramente,
Em cheio, sobre as faces de mil rosas,
que floresciam num jardim de fadas,
onde até o vento andava de mansinho.
Caía o luar nas faces dessas rosas,
que morriam, sorrindo, no jardim
pela tua presença enfeitiçado.
Toda de branco, vi-te reclinada
sobre violetas; e o luar caía
sobre a face das rosas, sobre a tua,
voltada para os céus, ai! de tristeza!

Não foi o Destino, nessa meia-noite,
não foi o Destino (que é também Tristeza)
que me levou a esse jardim, detendo-me
com o incenso das rosas que dormiam?
nenhum rumor. O mundo silenciara.
Só tu e eu (meu Deus! como palpita
o coração, juntando estas palavras!)...
Só tu e eu... Parei... Olhei...
E logo todas as coisas se desvanaceram.
(Lembra-te: era um jardim enfeitiçado.)
Fugiu a luz de pérola da lua.
Os canteiros, os meandros sinuosos,
flores felizes, árvores aflitas,
tudo se foi; o próprio odor das rosas
morreu nos braços do ar que as adorava.

Tudo expirara... Tu ficaste...
Menosque tu: a luz divina nos teus olhos,
a alma nos olhos para os céus voltados.
Só isso eu vi durante horas inteiras,
até que a lua fosse declinando.
Ah! que histórias de amor se não gravavam
nas celestes esferas cristalinas!
que mágoas! que sublimes esperanças!
que mar de orgulho, calmo e silencioso!
e que insondável aptidão de amar!

Mas, afinal, Diana se sepulta
num túmulo de nuvens tormentosas.
tu, como um elfo, entre árvores funéreas,
deslizas. Só teus olhos permanecem.
não quiseram fugir e não fugiram.
Iluminando a estrada solitária
de meu regresso, não me abandonaram
como o fizeram minhas esperanças.

E ainda hoje me seguem, dia a dia.
São meus servos - mas eu sou seu escravo.
Seu dever é luzir em meu caminho;
meu dever é SALVAR-ME pro seu brilho,
purificar-me em sua flama elétrica,
santificar-me no seu fogo elísio.
Dão-me à alma Beleza (que é Esperança).
Astros do céu, ante eles me prosterno
Nas noites de vigília silenciosa;
e ainda os fito em pleno meio-dia,
duas Estrelas-d`Alva, cintilantes,
que sol algum jamais extinguirá.

EDGAR ALLAN POE

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Desejo Sem Fim

















A BELA MENINA
Estava sentado à beira da cama,
Que tínhamos acabado de usar.
Ainda meio embriagado,
Pelo vinho delicioso,
Que no teu corpo acabara de tomar.
Notei a porta do banheiro aberta,
E dentro vi a bela menina,
Que diante do espelho, estava a se preparar.
Semblante sério acertava as tranças.
Que a pouco, de forma louca,
Eu ajudara a desarrumar.
Então ela notou o meu olhar.
E com seu sorriso fez meu corpo arrepiar.
Rapidamente a trouxe para mim.
Pois, melhor que vê-la se vestir,
É poder novamente,
Ajuda-la a se despir.

CARLOS MEDEIROS

Homenagem Feminina



















SABER VIVER
Não sei... Se a vida é curta
Ou longa demais pra nós,
Mas sei que nada do que vivemos
Tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo,
É o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
Não seja nem curta,
Nem longa demais,
Mas que seja intensa,
Verdadeira, pura... Enquanto durar
CORA CORALINA

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Para Lisgardênia, minhas 2 flores no mesmo botão.























SANTA PACIÊNCIA
És santa de paciência infinita.
Sua imagem serena,
Entre todas é a mais bonita.
Sua voz acalma,
Seu sorriso ilumina,
Sua palavra envaidece.
Seu jeito lembra a menina,
Que a alma de todos enobrece.
És simples na medida certa.
Seu carinho meu corpo entorpece
E com um beijo cala minha voz.
Sem ti sou cego perdido
E sua ausência causa dor atroz.
Sou incompleto,
Meio homem...
Seu altar é o meu coração,
Iluminado pela sua presença eterna.
És companheira, amiga,
Mulher, mãe, menina,
Santa...
Santa paciência.
Por isso peço perdão,
Se alguma coisa te falta.
E pelas vezes que magoei seu coração.
Rezo a tí, que nunca esqueças,
Que te amo demais.
E aconteça o que acontecer,
Não te deixarei jamais.
CARLOS MEDEIROS

Mágica Noite









A NOITE NA ILHADormi contigo a noite inteira junto do mar, na ilha.
Selvagem e doce eras entre o prazer e o sono,
entre o fogo e a água.
Talvez bem tarde nossos
sonos se uniram na altura e no fundo,
em cima como ramos que um mesmo vento move,
embaixo como raízes vermelhas que se tocam.
Talvez teu sono se separou do meu e pelo mar escuro
me procurava como antes, quando nem existias,
quando sem te enxergar naveguei a teu lado
e teus olhos buscavam o que agora - pão,
vinho, amor e cólera - te dou, cheias as mãos,
porque tu és a taça que só esperava
os dons da minha vida.
Dormi junto contigo a noite inteira,
enquanto a escura terra gira com vivos e com mortos,
de repente desperto e no meio da sombra meu braço
rodeava tua cintura.
Nem a noite nem o sonho puderam separar-nos.
Dormi contigo, amor, despertei, e tua boca
saída de teu sono me deu o sabor da terra,
de água-marinha, de algas, de tua íntima vida,
e recebi teu beijo molhado pela aurora
como se me chegasse do mar que nos rodeia.

PABLO NERUDA

sábado, 5 de setembro de 2009

Calvário Brasileiro



















O CRUCIFICADO
Não nasci em uma manjedoura.
Para mim não havia uma gruta acolhedora.
Nem tampouco uma estrela para todos guiar.
No hospital não tinha vaga para mamãe ficar.
Por isso nasci no meio da rua.
Não vieram reis me presentear.
Ganhei apenas um pano velho,
que cobriu minha pele nua.
Os anjos do céu não se puseram a cantar.
Meu pobre pai era carpinteiro,
Mas não pode me ensinar essa profissão.
Pois antes de eu nascer,
foi morto pela polícia.
Seu crime? Além de ser pobre era negão.
E é assim que a revolta inicia...
Não fui à escola e nem conheci o templo.
A rua com suas leis
Foi que me ensinou a grande lição,
De matar para não morrer.
E hoje ha sangue sujando a minha mão.
Negaram-me o futuro, um motivo para viver.
Agora nada mais irá me convencer,
Que algo de bom venha me acontecer...
A cela que agora estou,
Encontra-se superlotada.
E a minha alma foi a sorteada,
Para crucificada morrer.
Na minha via crucie, não há choro ou lamentos.
Nem alguém para aliviar esses tormentos,
Mesmo que fosse por poucos momentos.
Por favor Pai, eu não quero beber desse cálice...
Mas agora está tudo consumado.
E meu corpo jaz pendurado,
Selando o destino que desde o início já estava traçado.
Brasil... Por quê me abandonaste?


CARLOS MEDEIROS

Eterno Racismo



















O CASO DOS DEZ NEGRINHOS
(ROMANCE POLICIAL BRASILEIRO)
Dez negrinhos numa cela
e um deles já não se move.
Fugiram de manhã cedo,
mas eram nove.

Nove negrinhos fugindo
e um deles, o mais afoito, dançou:
cruzou com uma bala...
Correram oito.

Oito negrinhos trabalham
de revólver e canivete;
roupa caqui vem chegando,
fugiram sete.

Sete negrinhos passando
pela rua de vocês;
alguém chamou a polícia,
correram seis.

Seis negrinhos dão o balanço:
bolsa, anel, relógio, brinco...
Houve um erro na partilha,
sobraram cinco.

Cinco negrinhos de olho
na saída do teatro.
Um vacilou, deu bobeira...
Correram quatro.

Quatro negrinhos trombando,
todos quatro de uma vez.
Um deles a gente agarra,
mas fogem três.

Três negrinhos que batalham
feijão, farinha e arroz.
Um se deu mal: a comida
dava pra dois.

Dois negrinhos se embebedam
de brahma, cachaça e rum.
Discussão, briga, navalha...
e fica um.

E um negrinho vem surgindo
no meio da multidão.
Por trás desse derradeiro...
vem um milhão.


BRÁULIO TAVARES