quarta-feira, 20 de junho de 2012

Cravo e Canela





















MORENA AMADA

Morena bonita me dá sua cor,
Para que eu possa pintar a minha vida,
E encobrir o preto e branco de minha dor,
Com as paisagens dessa felicidade desmedida,

Morena menina me dá sua flor,
Que eu transformarei em buquê,
Levando ao mundo a beleza do ipê,
Que te imita o doce perfume do amor.

Morena faceira me dá teu sorriso
Para alegrar meu coração.
Que de tristeza ficou indeciso,
E ainda tem medo dessa nova emoção.

Morena mulher me dá teu desejo,
Que aconchega teu corpo no meu.
O teu calor me é benfazejo,
Pois aquece quem já tanto sofreu.

Morena divina me leva contigo,
Não me prives dessa linda paixão.
Estar sem ti é tremendo castigo,
Pois não quero mais essa solidão.

CARLOS MEDEIROS

Não Basta Amar...




















AO CORAÇÃO QUE SOFRE


Ao coração que sofre, separado
Do teu, no exílio em que a chorar me vejo,
Não basta o afeto simples e sagrado
Com que das desventuras me protejo.

Não me basta saber que sou amado,
Nem só desejo o teu amor: desejo
Ter nos braços teu corpo delicado,
Ter na boca a doçura de teu beijo.

E as justas ambições que me consomem
Não me envergonham: pois maior baixeza
Não há que a terra pelo céu trocar;

E mais eleva o coração de um homem
Ser de homem sempre e, na maior pureza,
Ficar na terra e humanamente amar.


OLAVO BILAC

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Dia dos Namorados 2

















TEU TOQUE

Você surgiu assim de repente,
Quando eu mais procurava por você.
Eu necessitava de um carinho,
Implorava por um sorriso,
Desejava a tua voz.
Novamente tornei a sorrir,
Me sentir um abençoado.
Tocado por Deus mesmo...
Tocado por tua luz...
Tocado por você.

CARLOS MEDEIROS

Virou Saudade


















HOUVE UM POEMA
 

Houve um poema,
entre a alma e o universo.
Não há mais.
Bebeu-o a noite, com seus lábios silenciosos.
Com seus olhos estrelados de muitos sonhos.

Houve um poema:

parecia perfeito.
Cada palavra em seu lugar,
como as pétalas nas flores
e as tintas no arco-íris.
No centro, mensagem doce
e intransmitida jamais.

Houve um poema:

e era em mim que surgia, vagaroso.
Já não me lembro e ainda me lembro.
As névoas da madrugada envolvem sua memória.
É uma tênue cinza.
O coral do horizonte é um rastro de sua cor.
Derradeiro passo.

Houve um poema.

Há esta saudade.
Esta lágrima e este orvalho - simultâneos -
que caem dos olhos e do céu.

 
CECÍLIA MEIRELES

sábado, 2 de junho de 2012

Dia dos Namorados 1

















Dia dos Namorados

Que amanhecer lindo,
O perfume do dia está a se espalhar.
A certeza de que ela já vem vindo,
Me traz o desejo de amealhar,
As belas flores desse campo fértil,
Onde cultivamos as promessas,
Dessa paixão estudantil.
Tudo é bonito e verdadeiro,
Nesse seu sorriso gentil.
E sei que eternamente serei o primeiro
A trocar sonhos nesse delicioso beijar.
A tarde caminha tranquila,
E o anoitecer inflama as luzes
Que acendem o que já ardia em mim.
O anseio de te amar pela primeira vez,
De tocar seu corpo sagrado,
Envolver-me nessa intensa languidez.
Então,  definitivamente a ti anelado,
Formaremos um só coração.
Deitado nesse único corpo adormeço,
Com o seu dedilhar em meus cabelos.
Executando sublime melodia,
Que embalará meu sono agradecido.
Lentamente a noite se enche de luz,
E meio tonto ainda procuro seu corpo,
Para com um beijo retribuir,
O meu presente do dia dos namorados.

Mas você está ausente,
Só a solidão está a meu lado.
O sonho de ontem foi só mais um pesadelo.
Que a tua falta sempre me traz.

CARLOS MEDEIROS

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Ganhando O Mundo
















DA MAIS ALTA JANELA

Da mais alta janela da minha casa
Com um lenço branco digo adeus
Aos meus versos que partem para a Humanidade.

E não estou alegre nem triste.
Esse é o destino dos versos.
Escrevi-os e devo mostrá-los a todos
Porque não posso fazer o contrário
Como a flor não pode esconder a cor,
Nem o rio esconder que corre,
Nem a árvore esconder que dá fruto.

Ei-los que vão já longe como que na diligência
E eu sem querer sinto pena
Como uma dor no corpo.

Quem sabe quem os lerá?
Quem sabe a que mãos irão?

Flor, colheu-me o meu destino para os olhos.
Árvore, arrancaram-me os frutos para as bocas.
Rio, o destino da minha água não era ficar em mim.
Submeto-me e sinto-me quase alegre,
Quase alegre como quem se cansa de estar triste.

Ide, ide de mim!
Passa a árvore e fica dispersa pela Natureza.
Murcha a flor e o seu pó dura sempre.
Corre o rio e entra no mar e a sua água é sempre a que foi sua.

Passo e fico, como o Universo.

ALBERTO CAEIRO

(Um dos heterônimos de Fernando Pessoa)