quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Outra Noite...



















NOITE PARA O AMOR



Serena noite, belo luar,
Brisa leve, doce sonho de amar...
Desejos na noite calma,
Lembranças queridas,
Que voltam do fundo d´alma.
Não sei dizer quanto te gosto.
Certeza só do meu viver,
Que depende inteiramente do teu sorriso,
Do teu olhar,
De tua boca,
Da tua forma de beijar...

CARLOS MEDEIROS

Noite Mágica

BOA-NOITE

Boa-noite, Maria! Eu vou-me embora.

A lua nas janelas bate em cheio.
Boa-noite, Maria! É tarde...é tarde...
Não me apertes assim contra teu seio.


Boa-noite!...E tu dizes - Boa-noite.
Mas não digas assim por entre beijos...
Mas não mo digas descobrindo o peito,
- Mar de amor onde vagam meus desejos.


Julieta do céu! Ouve...a Calhandra
Já rumoreja o canto da matina.
Tu dizes que eu menti?...pois foi mentira...
...Quem cantou foi teu hálito, divina!


Se a estrela d'alva os derradeiros raios
Derrama nos jardins do Capuleto,
Eu direi, me esquecendo d'alvorada:
"É noite ainda em teu cabelo preto..."


É noite ainda! Brilha na cambraia
- Desmanchado o roupão, a espádua nua -
O globo de teu peito entre os arminhos
Como entre as névoas se balouça a lua...


É noite, pois! Durmamos, Julieta!
Recende a alcova ao trescalar das flores,
Fechemos sobre nós estas cortinas...
- São as asas do arcanjo dos amores.


A frouxa luz da alabastrina lâmpada
Lambe voluptuosa os teus contornos...
Oh! Deixa-me aquecer teus pés divinos
Ao doudo afago de meus lábios mornos.


Mulher do meu amor! Quando aos meus beijos
Treme tua alma, como a lira ao vento,
Das teclas de teu seio que harmonias,
Que escalas de suspiros, bebo atento!


Ai! Canta a cavatina do delírio,
Ri, suspira, soluça, anseia e chora...
Marion! Marion!...É noite ainda.
Que importa os raios de uma nova aurora?!...


Como um negro e sombrio firmamento,
Sobre mim desenrola teu cabelo...
E deixa-me dormir balbuciando:
- Boa-noite! - formosa Consuelo!...

CASTRO ALVES

domingo, 8 de novembro de 2009

Flagelo Moderno

VÍCIO

O que você tem a me oferecer,
Além dessa loucura desmedida?
Desse tormento que nunca termina?
Desse desespero por uma alegria perdida?
Eu te procuro por toda cidade,
Alucinado pelo prazer por ti ofertado.
Sem me importar com o preço cobrado.
Você se transforma em minhas mãos.
Se torna o pó da minha vida,
Que eu absorvo até sangrar.
Fluindo em movimentos alucinantes,
Que explodem com a força de mil amantes.
Mas uma de ti só não basta.
Por isso essa busca não termina.
E sigo tentando te encontrar.
Caçando uma felicidade,
Que você finge me dar.
Sou inconsciente de tua verdade,
Conhecedor apenas de tua maldade.
Te querer é pura covardia,
Pois sei que contigo morro todo dia.

CARLOS MEDEIROS

Tenebrosa Noite dos Anjos




QUEIXAS NOTURNAS

Quem foi que viu a minha Dor chorando?!
Saio. Minh'alma sai agoniada.
Andam monstros sombrios pela estrada
E pela estrada, entre estes monstros, ando!


Não trago sobre a túnica fingida
As insígnias medonhas do infeliz
Como os falsos mendigos de Paris
Na atra rua de Santa Margarida.


O quadro de aflições que me consomem
O próprio Pedro Américo não pinta...
Para pintá-lo, era preciso a tinta
Feita de todos os tormentos do homem!


Como um ladrão sentado numa ponte
Espera alguém, armado de arcabuz,
Na ânsia incoercível de roubar a luz,
Estou à espera que o Sol desponte!


Bati nas pedras dum tormento rude
E a minha mágoa de hoje é tão intensa
Que eu penso que a Alegria é uma doença
E a Tristeza é minha única saúde!


As minhas roupas, quero até rompê-las!
Quero, arrancado das prisões carnais,
Viver na luz dos astros imortais,
Abraçado com todas as estrelas!


A Noite vai crescendo apavorante
E dentro do meu peito, no combate,
A Eternidade esmagadora bate
Numa dilatação exorbitante!


E eu luto contra a universal grandeza
Na mais terrível desesperação...
É a luta, é o prélio enorme, é a rebelião
Da criatura contra a natureza!


Para essas lutas uma vida é pouca
Inda mesmo que os músculos se esforcem;
Os pobres braços do mortal se torcem
E o sangue jorra, em coalhos, pela boca.


E muitas vezes a agonia é tanta
Que, rolando dos últimos degraus,
Hércules treme e vai tombar no caos
De onde seu corpo nunca mais levanta!


É natural que esse Hércules se estorça,
E tombe para sempre nessas lutas,
Estrangulado pelas rodas brutas
Do mecanismo que tiver mais força.


Ah! Por todos os séculos vindouros
Há de travar-se essa batalha vã
Do dia de hoje contra o de amanhã,
Igual à luta dos cristãos e mouros!


Sobre histórias de amor o interrogar-me
É vão, é inútil, é improfícuo, em suma;
Não sou capaz de amar mulher alguma
Nem há mulher tavez capaz de amar-me.


O amor tem favos e tem caldos quentes
E ao mesmo tempo que faz bem, faz mal;
O coração do Poeta é um hospital
Onde morreram todos os doentes.


Hoje é amargo tudo quanto eu gosto:
A bênção matutina que recebo...
E é tudo: o pão que como, a água que bebo,
O velho tamarindo a que me encosto!


Vou enterrar agora a harpa boêmia
Na atra e assombrosa solidão feroz
Onde não cheguem o eco duma voz
E o grito desvairado da blasfêmia!


Que dentro de minh'alma americana
Não mais palpite o coração - esta arca
Este relógio trágico que marca
Todos os atos da tragédia humana! -


Seja esta minha queixa derradeira
Cantada sobre o túmulo de Orfeu;
Seja este, enfim, o último canto meu
Por esta grande noite brasileira!


Melancolia! Estende-me a tua asa!
És a árvore em que devo reclinar-me...
Se algum dia o Prazer vier procurar-me
Dize a este Monstro que eu fugi de casa!

AUGUSTO DOS ANJOS