domingo, 2 de agosto de 2009

Eterna Desventura



ANEL



Dá-me um anel; mas que seja
Como o anel em que cingida
Tem gemido toda a minha vida.
Dá-me um anel; mas de ferro,
Negro, bem negro, da cor
Desta minha acerba dor,
Deste meu negro desterro!

Dá-me um anel; mas de ferro...

Sempre comigo hei-de tê-lo;
Há-de ser o negro elo,
Que me prenda à sepultura.
Quero-o negro...seja o estigma,
que decifre o escuro enigma,
Duma grande desventura.

Dá-me um anel; mas de ferro,

Que resista mais que os ossos
Dum cadáver aos destroços
Do roaz verme do pó.

Entre as cinzas alvacentas,
como espólio das tormentas
Apareça o ferro só.

E o teu nome impresso nele,

Falará dum grande amor,
Nutrido em ânsias de dor,
Pelo fel da sociedade...
Que teu nome nele escrito,
Nesse padrão infinito,
Vá comigo à Eternidade.

Camilo Castelo Branco

2 comentários:

  1. "Dá-me um anel mais de ferro;Que resista mais que os ossos... E teu nome impresso nele;Falará dum grande amor;Nutrido em ânsias de dor; Pelo fel da sociedade... Que teu nome nele escrito;Nesse padrão infinito;Vá comigo à Eternidade..." Putzzzzzzz Carlos, pq vc fez isso?? Maldade sabia?? Só de ler Camilo Castelo Branco eu choro... Ainda mais esse poema... Chorei, sabia???

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  2. Poesia é isso moça... Sentimentos à flor da pele... Beijos!

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